ASSASSINARAM O PORTUGUÊS (IDIOMA)

ASSASSINARAM O PORTUGUÊS

 Com muita frequência sou surpreendido por erros gritantes de português, da parte de pessoas que fazem os mais diferentes programas de televisão. Entre elas, destacam-se, em primeiro plano, os próprios apresentadores; e, sem exceção de posição social: Os políticos, os advogados, os médicos, os atores e as atrizes de emissoras de televisão, e.t.c.; sem deixar de citar, ainda, com profunda tristeza, os maus professores de ensino médio ou superior. Que ironia, lastimável!

Intuitivamente, me pego, sempre, aos brados, corrigindo algum erro berrante, como se quem o cometeu me pudesse ouvir. Então, minha doce e queridíssima mulher, com seu jeitinho satírico, me chama de "Pascoalete". Para quem não sabe, um tal personagem de novela, chamado Pascoalete, vivia atormentando a vizinhança, corrigindo seus (dela) erros de português; como, intuitivamente, o faço, quando assisto aos programas de televisão, no aconchego do meu lar.

Não me ponho, premeditadamente, diante do aparelho de televisão, disposto a fazer correções no linguajar daqueles que nos dão o privilégio de saber das primeiras notícias do dia; ou de ter prazer nas horas de entretenimentos, e.t.c., e.t.c.; entretanto, por me haver mergulhado, a fundo, no aprendizado da nossa língua portuguesa, dói-me os tímpanos, quando escuto algo errado, de natureza vernacular. Diz-se que o hábito faz o monge!

É lamentável ouvir-se de quem menos se espera, o uso de "A presidenta Dilma", se corretamente seja "A presidente Dilma"; fundamentando-se nos similares vocábulos: "A depoente, a gerente, a intendente, a requerente". Ou, ainda, ouvir-se o errôneo emprego de "Muito provavelmente", desconhecendo-se que a junção do sufixo "mente" ao adjetivo "provável", ou seja: "provável+mente=provavelmente", designa maior força de expressão; invés de "Muito provável", aplica-se "Provavelmente". É erro gravíssimo dizer: "Muito provavelmente"!

Outras correções, tais como:

"Vou mostrar para você, como cuidar da tua saúde" (Iniciando-se com a 3ª pessoa do singular, e dando sequência com a 2ª pessoa do singular).
Opções corretas:
"Vou mostrar para você, como cuidar da sua saúde"; "Vou mostrar para ti, como cuidar da tua saúde".

"Quero que ele seje igual a você", demonstrando total desconhecimento das conjugações verbais (Verbo SER, Subjuntivo Presente, 3ª pessoa do singular).
Opção correta:
"Quero que ele seja igual a você"

"Os acusados não foram identificados", expressando verdadeira ignorância sobre o que se fala; ou, sobre o que se escreve. Como poder acusar alguém, se este alguém não foi identificado? Esta é chula!

Sem mais delonga, deixe-me o magniloquentíssimo Rui Barbosa - onde quer que ele esteja - construir este meu símile texto:

"De tanto ver agigantar-se o barbarismo, de tanto ver vangloriarem-se os incapacitados, de tanto ver crescer a nulidade da nossa língua pátria. De tanto ver prosperarem-se os meios de comunicações do nosso país, nas mãos dos semi-analfabetos, ou, dos despreparados; chego a me desanimar da virtude do saber, a rir-me do nosso vernáculo pátrio; e a ter profunda vergonha de tentar ser um culto cidadão brasileiro".


Pedro Mallmann Filho/CAMILINHO